quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Saindo da rotina. Um de meus escritos...



Um homem bateu em minha porta e eu tive medo, não entendi, fiquei em dúvida, mas abri.

E sempre quando abrimos uma porta, coisas entram, coisas saem por ela.

E ele, lindo, imponente, doce, orgulhoso, despretensioso, entrou.

E, senhoras e senhores, eu coloquei as mãos no chão. Os pés pro alto. O coração nas nuvens.

Senhoras e senhores eu pulei de um pé só em um abismo escuro, deserto, quente e cheiroso. Pulei. Saltei. Me joguei.

Senhoras, e senhores também, eu tive que girar pra conseguir entender, pra conseguir enxergar que ali não era meu mundo. Ali não era meu lugar. Ali nada era meu.

E hoje?

Hoje, senhoras e senhores, ele não está mais aqui.

O abismo sumiu e tudo que temos é raso. Superficial. Nada tão intenso.

Hoje, estamos eu e meu coração sem um teto, sem calor, sem chão.

No olho da rua.

Nana

sábado, 7 de fevereiro de 2015

A praça - série biografia

Pensaram que tinha acabado? Naaaao, é muita história cagada pra pouca pessoa rs 

Essa história, particularmente, eu não acho engraçada. Senti vergonha, medo. Mas vamos lá...

Fiz uma viagem pra Minas com uma galera e, na volta, vim tendo uma DR necessária. Já disse que não vou citar nomes, mas quem é sabe. E a conversa realmente durou todas as horas da viagem. Horas, falando, ouvindo. Um sono que não cabia dentro de mim, mas não tinha outro jeito. 
Chegando no Rio, pensei: não vou pra faculdade. Vou tirar aquele soninho gostoso sem hora pra acordar e depois vou pro estágio direto! PRECISO dormir! 
Mas como tudo na minha vida não acontece como eu planejo, em casa minha mãe armou um barraco por eu não querer ir pra aula. Conspiração, sabe!? E, sem forças pra discutir, eu fui.

Dormi a viagem inteira; da Penha ao Rio Sul, mas não foi o necessário. Quando desci do ônibus (tendo que andar uns 15 minutos até a Urca) meu corpo não estava respondendo. Minha vontade era deitar no meio fio e dormir ali mesmo. Eu ia desmaiar de sono, e não estou exagerando. Não conseguia andar direito, meus olhos fechando. Foi quando lembrei que tinha uma pracinha atrás do Rio Sul. Uma pracinha que poucas vezes vi frequentada por alguém. 

Fui cambaleando até lá. Achei um banco, limpo, vazio, meu. Ajeitei a bolsa, deitei a cabeça sobre ela. Ajeitei o corpo, a saia longa pra não aparecer nada, caso alguém aparecesse. Umas duas pessoas, talvez brotassem ali. E dormi. 

Queridos, eu dormi. Mesmo. Sonhei. Babei. Rolei.

Acordei 5 horas depois com o gari batendo o cabo da vassoura na minha perna

- Tá tudo bem moça? Tá passando mal?

Minha bolsa estava molhada, meu cabelo amassado, meu rosto marcado, a saia lá encima, tudo torto. As crianças da praça estavam me olhando. O gari ainda parado esperando uma resposta. Eu levantei aos poucos, tentando parecer bem. Fui pegar os óculos escuros pra tentar esconder a vergonha mas eles estavam quebrados. Em três partes. Levantei e fui andando / me ajeitando pro ponto. Podia sentir os olhares das crianças, das mães e do gari me acompanhando. Me julgando.
No estágio perguntaram se eu tinha sido assaltada. Eu nem respondi.

No dia seguinte, na faculdade, uma amiga veio contar:

- Cara, ontem vi uma menina muito bêbada, arrasada dormindo no banco da praça do Rio Sul. Parecia muito com você Joanna! 

- Era eu. 

Nana.






















quinta-feira, 28 de agosto de 2014

O lavabo - série biografia

Boa noite amigos,

O post de hoje é um pouco, digamos, fisiológico. 

Minha vó Gilda desde muito nova tinha uma amiga muito rica. E na maioria das vezes que essa amiga rica viajava de férias, ela pedia que minha avó cuidasse da casa pra ela. Que mantivesse a casa em ordem, que orientasse os empregados e tomasse conta das coisas. 

Numa dessas vezes eu e meu irmão fomos com a minha avó. Eu, ele, minha avó, minha bisavó e minha irmã.

Era um apartamento enorme em São Conrado, de vista pro mar. Era daqueles prédios com um apartamento por andar, sabe? Um luxo!

O apartamento era enorme e nós tínhamos acesso a tudo, menos ao quarto do casal. Mas o tudo já incluía bastante coisa. Uns 5 quatros e 2 suites, dois banheiros sociais e um lavabo, uma cozinha enorme! Sala pra tudo: sala de tv, sala de jantar, sala de estar, sala de um monte de coisa. 

Minha bisavó andava muito devagarinho e, por várias vezes, perdemos ela dentro do apartamento. Ela e a babá da dona da casa, já com a mesma idade que minha bisavó, não se davam. De jeito nenhum. E eu e meu irmão tínhamos a missão de não deixar as duas se encontrarem (minha bisa pediu isso, não tinha como negar). Só que perdendo ela desse jeito dentro de casa ficava muito difícil! 

Minha bisa era uma pessoa muito engraçada! Divertida, carinhosa, mas muito MUITO implicante. E com essa senhora ela implicava num grau, engraçado de se ver. 

Na hora das refeições sentávamos naquela mesa gigante, chique, linda! As vezes me dava tanto nervoso comer naquela mesa enorme, com pouca gente, que eu ia pra cozinha e almoçava com as empregadas. Era mais divertido. 

Bom, num belo dia, minha irmã chegou lá com uma amiga pra passar o dia. Como a casa era enorme a gente quase nao via ninguém, mas sabíamos que elas estavam por lá. 

Até que minha vó, a tarde, aos gritos, nos chamou:

- Joanna e Davi, venham pra sala, temos uma reunião de emergência!

Oi? Reunião? 

Todos já estavam sentados na sala e nós chegamos depois. O clima não estava dos melhores.

- Bom, temos um problema! - minha vó era mestre em dramatizar as coisas. Puxei muito isso dela! - alguém usou o lavabo da maneira errada! 

Eu confesso que a princípio nao entendi do que se tratava. Não fazia idéia do que ela quis dizer com "usaram da maneira errada" um lavabo... 

- Fizeram cocô no lavabo e todo mundo sabe que lavabo não é lugar de fazer cocô! 

Eu ri. Não deu. E fui condenada com todos os olhares. Gente, reunião de emergência por causa de um cocô? Era só tocar a descarga, não? 

Minha vó pediu que a pessoa que fez aquilo se acusasse. Porque era mais digno! Mas uma pessoa que faz cocô no lavabo, tendo trocentos banheiros no apartamento, é digna de que gente? 

A reunião se estendeu com acusações pra todos os lados. Sobrou até pro meu irmão que era o mais novo e mal tinha argumento pra se defender. O álibi dele era estar comigo o dia todo. 

Os empregados foram chamamos e minha vó pediu que ninguém contasse nada pra dona da casa, como segredo mesmo. O lavabo era realmente lindo, cheiroso, mas não acho que a dona da casa se importaria tanto. Acho. 

Mais tarde minha bisa me chamou e contou que a amiga da minha irmã tinha saído do lavabo e ela tinha visto, mas como minha vó nao ia acreditar, era melhor deixar pra lá. Ainda disse que tinha certeza que a babá ia contar tudo pra dona da casa, porque ela era fofoqueira e intrigueira! E pra completar mandou a sentença de que, depois daquilo, não voltaríamos mais naquele apartamento!

Se a babá contou, jamais saberemos. (Que Deus a tenha), mas o fato é que nunca mais voltamos praquele e nenhum outro apartamento. Por causa de um cocô mal cagado! 

Bendita sabedoria dos velhos! 

Nana.


quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O primeiro beijo - série biografia




A imagem é linda né?! O sonho de qualquer adolescente... Mas não foi NADA parecido com isso meu primeiro beijo. 

Vamos ao post de hoje! 

Eu tinha 13 anos e era apaixonada pelo Walace, o vizinho novo do prédio do lado. Hoje, Walace jamais entraria na minha lista de "queridos". Desculpa Walace. Mas na época ele era tudo que eu sonhava. 

Até que um dia tivemos a brilhante idéia de fazer uma festa americana na casa da minha melhor amiga, Clara, cuja única intenção, ao criar o evento, era que eu e Walace começássemos a ser um casal. 

Armamos tudo! Convidamos a rua quase toda, compramos as coisas pra decoração, o papel celofane azul pra cobrir a lâmpada, a corda pra Dança da Cordinha... Os meninos levariam as bebidas, as meninas as comidas. Nossas mães ficariam na cozinha pra ajudar a servir as coisas. 

Walace foi ajudar na arrumação e, durante uma das musicas do Exalta Samba, dançamos juntinhos. Tudo estava indo muito bem! 

A festa começou. As pessoas chegando, a música tocando, a cordinha esticada, o povo passando, e chegando mais gente, e tudo bombando! 

Clara armou todo o esquema e o primeiro beijo seria no quarto dela. 
- Joanna, vai indo pro meu quarto que daqui a pouco ele vai! 

Era meu momento. 

O "daqui a pouco" durou uns eternos dez minutos. Até que ele abriu a porta. Achei que ia cuspir meu coração na boca dele quando o beijo, enfim, acontecesse. O bicho pulava dentro do peito e eu pensei que fosse morrer! Ficamos conversando sobre umas coisas nada a ver, eu querendo morrer, ele querendo me agarrar. Até que ele foi chegando perto, os olhos foram fechando, fechando.... E meu irmão! A língua dele parou na minha glote! Eu fiquei imóvel enquanto aquele beijo horroroso quase me fazia vomitar!! Sabe quando você enfia o dedo na garganta pra botar os bofes pra fora?? Gente, a MESMA sensação! Eu só queria que aquilo acabasse logo antes que uma tragédia acontecesse, e ela aconteceu! Minha mãe abriu a porta do quarto!!!!!! Olhou pra nossa cara, pediu um "desculpa" meio rindo e saiu. A MINHA MÃE, véi! 

Ele deu uma risadinha tipo "vamos fingir que isso não aconteceu", mas estava acontecendo. E estava ruim demais. Ganhei mais uns 3 beijos como aquele pedindo a Deus pra não vomitar! E eu ficava parada, imóvel, enquanto ele tentava pescar alguma coisa dentro da minha garganta!!! Pedi que saíssemos do quarto porque, afinal, minha mãe ia pensar coisas... 

Gente, ruim demais. Tudo! 

O saldo disso tudo? 

- A festa encheu de penetra e tivemos que expulsar todo mundo pra acabar com aquela galera fazendo zona na casa da Clara; 

 - Minha mãe me gastou por meses depois daquele flagra no quarto;

- Walace inventou pra rua inteira que fez mil coisas comigo naquele quarto. O azar dele é que eu era muito amiga dos garotos (quase um deles, na verdade) e eles me defenderam. Ameaçaram de bater nele, caso a difamação continuasse. 

Walace, querido, sei que não vai ler isso, mas saiba: nao foi bom!! Tava bem ruim! E difamar as pessoas, ainda mais no meu caso que nem a mão, nem a cabeça, saíram do lugar, te faz um cara bem babaca desde os 13 anos. 

Mas, sempre existe o segundo beijo né gente? Ai foi ooooooooutra história.....! ;)

Nana 

terça-feira, 5 de agosto de 2014

A festa! - série biografia

Boa noite povo lindo!! 

Bom, antes do post de hoje gostaria de pontuar algumas coisinhas...

- as postagens não tem ordem cronológica;

- alguns nomes serão alterados por questão de não querer comprometer ninguém, mas quem é sabe! 

Comecemos..

Eu era adolescente. E pra qualquer adolescente festa de 15 anos é O evento! Em festa de 15 anos tudo de melhor acontece... 

Uma amiga nos convidou pra ir na festa de 15 anos de uma amiga dela. Segundo ela, ia ser a festa do século! Festão mesmo! Isso foi repetido diversas vezes! Inclusive fora feita a exigência de que fôssemos MTO elegantes pra não passar vergonha nessa festa tão bombástica. 

Na minha adolescência as vacas estavam bem magrinhas. Não que agora estejam gordas, mas naquela época era bem pior. Passei uma semana catando roupa pra poder ir nesse mega evento. Vestido emprestado, sapato emprestado, bolsa idem. Tudo pra não fazer feio! 
No dia da festa passamos um dia inteiro nos arrumando! Eram mais ou menos umas cinco meninas. Até arrumar cabelo, roupa e estica e puxa..... 
A amiga que tinha o carro mais bonito, do pai claro, nos levou pra festa. Era em Bento Ribeiro. 

Chegamos...

De dentro do carro conseguimos já visualizar aquilo que o coração nao queria acreditar. A casa, sim a festa era numa casa, estava cheia de gente. A aniversariante de bermuda e chinelo. A fumaça do churrasco saía do quintal. Eu queria sumir! Descer do carro estava fora de cogitação, mas a gente já estava parada ali e a festa já estava parada olhando pro carro. Vergonha, desespero! O motorista do nosso carro ria e falava "essa é a festa???" Sim, essa! 

Depois de muito custo e de muito acordo resolvemos sair do carro. Se uma de nós caísse no chão, virasse o salto ia ser melhor. Porque ai ia descontrair, a galera ia rir, sabe! Quebrar aquele clima! Porque a festa PAROU pra ver a gente descer e, não, não foi sexy e nem me senti em câmera lenta! Na verdade queria que acabasse logo!!! 

A desculpa foi de dizer que estávamos indo dali pra outro evento. Só demos uma passadinha. Nada justificava aquela produção toda se não fosse esse o motivo.

A festa inteira nos olhando. Nao quiseram deixar a gente na área comum da festa e enfiaram a gente na sala. SÓ a gente na sala! As pessoas passavam e olhavam estranho. Óbvio! Um casal começou a dançar forró na sala e o rapaz chamou uma de nós pra dançar. Eu só conseguia olhar pra minha amiga e perguntar "por que"?

Ligamos pro namorado de uma das meninas pra nos tirar dali, nos levar pra qualquer lugar! Vocês lembram que no início da história éramos 5, 6? Ele foi nos buscar com um amigo dentro do carro....aliás preciso dizer que o carro era um gol quadrado! Aliás preciso dizer que esse namorado da minha amiga não tinha carteira de motorista.

E pra sair dali? Chegamos naquele carrão e saímos como sardinhas enlatadas naquele carro! 

Fomos embora e pensamos: nada pode ser pior! Uma briga pra decidir pra onde ir. Decidimos ir pra Praia da Bica. Nós e a polícia que fazia uma blitz no caminho! Fiquei completamente dormente. Era óbvio que iriam nos parar!!! Não tinha como não parar! Meu amigo saiu do carro para "negociar". Voltou todo serelepe dizendo que resolveu!

- como? 
- paguei!
- quanto? 
- cinqüenta reais, nao tinha trocado! 

TODO MUNDO TINHA TROCADO! Aquele povo todo dentro do carro tinha dinheiro,  moeda, chiclete! Cinqüenta reais!!!!!!!!!! 
Fomos falando isso até lá! Sem parar! Ninguém se conformava de perder cinqüenta pro polícia! Na minha época de adolescente (não se meta a besta de perguntar quanto tempo tem) isso era muito dinheiro! Pra perder num suborno!??? 

Comemos, bebemos, rimos e enfim, fomos voltar pra casa.vMas não antes de parar na MESMA blitz da ída! Jkkkkkkkkk sério era a mesma! 

E o mesmo policial mandou encostar! Meu amigo já saiu do carro gritando: 

- JÁ TE DEI CINQÜENTA REAIS! 

Ele mandou calar a boca e ir embora rápido! Provavelmente ficou com o dinheiro todo pra ele e não queria dividir...

Enfim, hoje a gente ri disso. Aposto que se lerem essa história vão lembrar desse dia com um sorriso grande nos lábios, porque HOJE é engraçado! Naquele dia foi uma pagação de mico gigante! 

A lição disso tudo é: Quando for fazer uma festa, coloque os trajes no convite e JAMAIS deixe um amigo chamar os amigos dele. JAMAIS; não ande com motoristas sem carteira; não confie quando sua amiga disser que a festa é O evento e, por último e mais importante: cinqüenta reais NUNCA! 

Nana






 

terça-feira, 15 de julho de 2014

O pai - série biografia

O mês de Julho é um mês muito especial pra mim, e ao mesmo tempo um mês triste. Em julho faz frio, em julho estamos no meio, em julho meu paizinho fazia aniversário. 

E é em homenagem a ele que eu gostaria de fazer esse post biográfico. Queria contar um pouco das muitas e boas histórias que tivemos. Desde que meu pai se foi não consigo escrever sobre ele. Já tentei algumas vezes mas sempre existe um bloqueio, uma saudade tão absurda que apago tudo e não  quero lembrar, mas hoje eu quero. É julho! 

Meu pai nunca foi um pai muito convencional. Hippie, muito doido, muito engraçado. 

Eu não lembro, mas ele contava que uma vez eu tinha uns 3 anos e eu fui tirar sangue. Pra não chorar ele dizia que estava saindo coca-cola do meu braço. Eu quis beber a coca-cola do braço e ele teve que comprar um lanche pra nós dois. Meu pai tinha o estômago muito fraco pra frituras. Passou mal e, como só estávamos nós dois, ele teve que me levar no banheiro junto. Ele contava que minha cara ia piorando e eu falava: "ta fedendo papai! A coca-cola ta saindo agora de você?" Se ele tivesse celular provavelmente teria registrado minhas caretas! 

Meu pai tinha brincadeiras muito brutas. Pra nos "fazer crescer" ele nos pegava pelas orelhas e levantaaaaava bem alto! Pra fazer suco de tomate ele espremia a gente na parede e gritava SUCO!!!!! Pra fazer carinho antes vinha um tapa e pra beijar antes tinha que puxar pelo pescoço. Ahh ele gritava apertando: pescociiiiiinho! 

Quando íamos ao parque de diversões era sempre traumático! No trem fantasma podia ter ladrão e estuprador. Naquele escorrega gigante podia ter navalha no meio e cortar nossas pernas, na piscina de bolas cobra, no pula pula podíamos ser pisoteados. Mas nos outros podíamos ir mil e quinhentas vezes! 

Desde que me entendo por gente íamos pra Itaipuaçu pra casa dos meus avós. (Itaipuaçu merece um post a parte) Mas uma vez estávamos na casa da vó Gilda e ele passou pra nos buscar pra passar o fim de semana com ele. Não quisemos ir, pois nossos amigos estavam todos lá. "Não seja por isso, vamos levar seus amigos!" Ele foi de casa em casa pedindo aos pais. Resultado: 14 crianças viajando numa Brasília marrom! Não me perguntem como coube, mas coube! Pra matar a fome daquele povo todo, parou na padaria e comprou baguetes e coca de dois litros! Copo? Faca? Tudo na mão e bebendo no gargalo mesmo! Uma sujeira, uma zona, uma felicidade....

 Uma vez fomos fazer uma trilha de bicicleta e andamos muito! Pra quem conhece Itaipuaçu andamos do Recanto até a Rua 1! Eu com aquela ceci rosinha, ele com a bicicleta dele, a do meu irmão nas costas e com Davi na garupa! Já tínhamos ido, estávamos voltando. Ele gritava: força minha guerreira! Estamos chegando! Força guerreirinha! 

E era assim que ele me chamava. Até seu último dia foi assim, "minha guerreirinha"! 

Todas as vezes que eu tô muito triste, todas as vezes que eu acho que não vou aguentar mais, sempre que acho que não sou forte o bastante, eu lembro que sou a guerreirinha dele! E vou ser pra sempre! 

Nana 

terça-feira, 1 de julho de 2014

O anel - série biografia

Eu tinha uns 8, 9 anos e estudava numa escola católica em Brás de Pina.

Na minha sala, um menino (não lembro o nome dele, juro) se disse apaixonado por mim. Não, ele não era bonito. E mesmo se fosse, que tipo de criança vocês pensam que eu fui??? rs
Ele se declarava todos os dias. Chato. Insistente! Mandava os amigos me dizerem que ele me amava, pra eu ter pena e compaixão por ele e dar uma chance. Eu não era dessas que dava chances. Eu não era dessas que me compadecia porque os amigos tentavam me convencer. Eu era bem nojenta. 

Aquilo começou a me irritar, me irritar muito, mas nada adiantava. 

Um dia ele chegou na aula, fez mais uma vez aquela cena, mas dessa vez foi diferente. Ele tirou do bolso um anel, um anel com a cara da Minnie de laço vermelho na cabeça. Uma graça. Fiquei tentada a negar o anel, mas achei que seria mal educado. Aceitei e disse que nada mudava entre nós, mas agradeci e disse que achei fofa a iniciativa. Achei mesmo. 

Achei tão fofo e me senti tão importante que mostrei o anel pra escola inteira! Mostrei pras amigas e pra quem não era amiga também! 

"Que mulher não gosta de ganhar joias"??? Com oito anos qualquer anel é joia! 

Na porta da escola tinham várias pessoas vendendo várias coisas. Sorvete de casquinha, pirulito de chupeta, laranjinha (nunca mais vi venderem laranjinha)... Um mundo de coisas bem na porta da escola.
E tinha uma "tia" que vendia bugigangas. Fones de ouvido, canetas, adesivos, enfim, milhões de coisas! 

No meio da aula, no mesmo dia que ganhei o anel, a tia entrou alucinada pela sala com a coordenadora, que pediu licença a professora para interromper a aula. Ela entrou, procurou e apontou:

- Foi ele! Foi aquele garoto ali! 

Eu acho que não preciso dizer que ela apontou pro garoto que me amava. A coordenadora pediu que ele a acompanhasse imediatamente. Ficamos todos apreensivos na sala de aula. A professora tentando controlar a curiosidade da turma. Quando a coordenadora entrou novamente na sala:

- Professora, a Joanna pode me acompanhar? 

Pronto. Gelei. Congelei. Até chegar na porta da sala parecia que o espaço não  terminava. O que eu tinha a ver com aquilo? 

Com todo o tato a coordenadora perguntou se por acaso ele nao havia me dado um presente. Eu disse que sim. Com mais tato ainda ela me questionou se tinha sido um anel. Eu olhei pra ele. Tenho certeza que ele sentiu meu ódio! O olhar dele clamava pra que eu negasse. Eu queria negar e depois arrebentar ele, mas não podia. Eu disse que sim. Ela pediu gentilmente que eu devolvesse o anel porque infelizmente ele não tinha pago por ele. 

Eu senti meu rosto pegar fogo. Minha vontade era pegar aquele anel e enfiar goela abaixo dele. Eu sei que parece meio cheio de ódio e rancor esse post, mas a vergonha daquele momento só me fazia sentir isso. Eu tirei aquele anel com tantos sentimentos juntos... Devolvi pra moça e perguntei se já podia entrar na sala. Ela disse que sim e agradeceu. 

Entrei e chorei. Fiquei com pena dele. Dei meia volta e chamei a coordenadora num canto. Pedi que nao punisse ele, porque ele fez aquilo pra me agradar, que foi sem querer. Ela pediu que eu não me preocupasse e que eu voltasse pra sala.

Ele não foi suspenso. Nada aconteceu. Acho que só ligaram pros pais dele. Depois desse dia nunca mais nos falamos, exceto pelo momento em que ele me pediu desculpas e eu disse que "tudo bem". 

Depois desse dia nunca mais ganhei anel nenhum. E o único que ganhei não pude guardar de recordação! 

Nana