segunda-feira, 8 de junho de 2015

A amiga - série biografia

Tá chegando o aniversário de uma amiga muito especial. A maneira como nos conhecemos, o jeito que conduzimos nossa amizade e o que temos hoje, fruto de todo esse tempo, é especial. 

E depois de tantos anos de amizade é lógico que temos uma penca de histórias pra contar! Mas eu escolhi uma, a pior pra mim.

Eu tinha 14 anos e ela 15. O juízo, o pouco que tinha, era só meu. Ela não tinha nenhum. 

Ela tinha uma casa em Iguabinha e fomos passar o Carnaval lá: eu, ela, a irmã mais nova, o pai, a mãe e os duzentos cachorros que eles tinham. Não To exagerando! Juro! Talvez uns cinquenta a menos... Talvez. Íamos a praia, dormíamos a tarde toda, brincávamos com os cachorros... Até que numa noite o pai dela resolveu levar a gente pra Araruama a noite. Tinha um parque pra levar a pequena e um palco com show pra nós duas. 

- Onze horas eu quero as senhoritas no carro, ouviram? Onze horas! Se não estiverem lá eu vou embora. 

Eu sabia que ele iria. E por isso repeti mais de quinhentas vezes ONZE HORAS! Ok. Vamos pro show.

Durante as apresentações o carinha que narrava o que ia acontecer anunciou o início de todos os males: "e daqui a pouquinho, aqui no palco... Swing e Simpatia!"... Pronto. Ela me olhou com aqueles olhos que eu sempre tive muito medo. Eu só conseguia dizer: ONZE HORAS! 

Queridos... O raio do show não começava e eu comecei a ficar nervosa! Deu quinze pras onze e nada de swing muito menos simpatia! Faltando cinco minutos pras onze (exatamente isso) começou a cair uma chuva! Mas uma chuva!!!! Eu gritava pra irmos pro carro e ela nem ai pra mim.. No meio daquele aguaceiro sambando feito louca. E eu imaginando o cinto do tio sambando na gente... A chuva passou umas onze e vinte, e de tanto eu insistir pra irmos pro carro, ela aceitou. Cadê o carro? CADÊ? 

Eu quis chorar, quis bater nela, quis bater no apresentador do show... Mas só consegui ficar em pânico. Foi quando ela com toda a calma que sempre teve me disse: - Amiga, já era! Vamos pro show.. Quando acabar vamos embora...

Meu pai sempre disse "o que não tem jeito, ajeitado está". 

Saímos de lá duas horas da manhã e fomos pro ponto de ônibus. 

- Tatiana, quanto vc tem de dinheiro pra gente ir de van? 

- Não tenho dinheiro! 

- Nenhum?????? Nada????

- Nada! Vamos pedir carona.

Se eu tenho essa cara de criança hoje, imagina com 14 anos, sendo realmente uma criança? Fomos de ônibus em ônibus pedindo peloamordedeus pra alguém levar a gente embora por dó, piedade... Até que um motorista se compadeceu e fomos embora.

- Onde temos que descer? 

- Não sei direito.. Mas acho que eu lembro. 

ACHO! 

Descemos no meio da estrada, na madrugada. Aquele som de mil bichos cantando sabe Deus o que! Eu olhava pra lua e só conseguia pedir a Deus pra sair viva daquilo ali! Ela ria sem parar! Um riso desesperado, aflito, agoniante. Andamos por horas! Eu já estava achando que ela não sabia onde estávamos, de tanto que andamos. Na verdade eu não lembro se nos perdemos...

Chegamos em casa. E os mil cachorros??? Entramos mais do que na ponta dos pés. Entrou a alma primeiro, depois o corpo. Os cachorros sentiram a tensão, o desespero e nenhum deles latiu. Milagre. 
Entramos em casa e a mãe dela esperava a gente acordada com olhos imensos. Loucas, malucas, insanas, foram alguns dos adjetivos. 

- Vem ver seu pai como tá! 

O tio estava dormindo abraçado no cinto. SÉRIO! Abraçado no cinto, Brasil!

Eu só queria dormir, mas ela ainda foi fazer lanche. Muito destemida cara! 

E é isso que ela é! Tudo isso. Impulsiva, determinada, inconsequente, destemida, louca! E é por isso e por tantas outras coisas que eu a amo tanto e insisti nessa amizade. Insisto até hoje. Porque quero estar sempre por perto, amiga. Na chuva, no sol, na estrada, na vida, no Swing e Simpatia! 

Nana.