quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

38 fatos sobre 38 anos

eu sei montar móveis

amo ler a Bíblia

eu tenho amigos que mantenho desde os 3 anos de idade

sei fazer churrasco

tenho ensino superior

nunca fui presa

trabalho em um emprego que gosto e que me faz bem, com pessoas que eu amo

já peguei um ex bbb

sei todas as coreografias do é o tchan

cuido bem das minhas plantas

cuido bem das minhas pessoas

meus ex não me odeiam

as crianças me adoram

tenho bom gosto musical (ok, há controvérsias)

sei nadar

sou uma boa vizinha

minha comida é uma delícia

eu choro lendo livros

eu choro vendo novelas

eu amo assistir novelas antigas

tenho compulsão por capinhas de celular

hoje tenho 9 tatuagens

meu livro favorito é Dom Casmurro; e a Capitu não traiu o Bentinho

não gosto das suculentas quando crescem, só gosto enquanto estão pequeninihas

lírio é minha flor favorita

amarelo é a minha cor preferida

odeio bife a parmegiana

limão me dá alergia

sou apaixonada pela Frida Kahlo

tenho a boca muito suja, mas meu coração é limpinho

quando fico bêbada eu imito um gato vomitando. Idêntico

nunca mais eu bebo gin

tenho pânico de gente lerda

eu tomo banho quente no verão

to tentando escrever um livro há anos

ouço música enquanto tomo banho

meu riso é frouxo e alto e de verdade

eu nasci em 1984


Nana.







sábado, 19 de fevereiro de 2022

Casa de marimbondo

   Onde eu moro tem um hall de entrada, como se fosse um corredorzinho só meu, visto que aqui no prédio tem um apartamento por andar. E nesse hall ficam a casinha do Bóris, casinha essa que nunca foi utilizada, os sapatos que tiro quando chego da rua - nunca, jamais, entro de sapatos sujos em casa-, um capacho e um quadro de "boas vindas" com os dizeres: "sinta-se em casa, mas lembre-se que não está". E nesse hall de entrada tem uma janela de vidro que eu costumava deixar aberta para arejar o ar do corredor do prédio. 

   Essa é a porta de entrada da minha casa. A única forma de entrar nela, no meu refúgio, meu lugar seguro. E estava tudo bem durante todos esses anos. Até que... bem, até que um marimbondo entrou pela janela e ficou ali, paradinho. No primeiro dia que eu o vi eu tive medo, receio de que ele voasse na minha direção, de que se sentisse ameaçado e viesse me ameaçar. Defesa, sabe? Instinto. Mas não. Ele ficou ali parado, me observando enquanto eu tirava meus sapatos sujos de rua e observava ele. Nos encaramos por alguns minutos, eu entrei, ele ficou.

   Eu não sei por quantos dias mantivemos esse contato. Foram alguns, não muitos, O fato é que ele continuava ali e eu perdi o medo. Já não me importava mais dele estar parado me olhando enquanto eu tirava os sapatos, porque eu tinha certeza de que assim ele permaneceria. Ai, Joanna. Você e suas certezas.

Até que um dia eu abri a porta para sair de casa e vi que ele estava sobre uma coisa meio estranha, umas casquinhas brancas, sei lá. Ignorei. Segundo dia, mesma posição, mesmas casquinhas, mesmo sapato fora do pé, mesma despedida. Próximo dia. Passou um tempo, não lembro quanto (eu preciso me atentar mais aos detalhes, cara. Questão de sobrevivência; porque não pode se ignorar os detalhes e eu vivo os ignorando) e numa tirada de sapatos eu pude ver; tinha uma casa de marimbondo ali. Uma casa na minha casa e eu não percebi que isso vinha sendo construído. Eu simplesmente não percebi, como muitas outras coisas que passam batido bem na ponta do meu nariz. Bem no corredor de entrada da minha casa.

   Aquele bicho se aproveitou da nossa relação de confiança. Ele simplesmente tomou pra ele um lugar que era meu! Eu o deixei em paz, eu não o importunei, respeitei seus espaços cedendo um pouco do que era meu!! E agora esse golpe! Essa quebra naquilo que tínhamos como seguro, eu e ele! Por que fez isso comigo?? Por que não continuar como estava e caminhar, talvez, pra uma relação ainda mais confiante e conveniente pra nós dois? Por que não fazer seu lar em outro lugar e manter as visitas apenas pra que a gente soubesse que um tinha o outro ali? Muitas questões, todas sem resposta.

   O fato é que tinha uma casa na minha casa, sem a minha autorização, sem que eu ao mesmo soubesse que aquilo estava sendo feito, sem um aviso prévio, sem consideração. E eu precisava fazer alguma coisa. Não fazer nada também é fazer alguma coisa, mas eu não podia. Qual tamanho aquela casa poderia ter depois de algum tempo mais? Já estava enorme! Uma casa na minha casa? Não! Construir seu lugar seguro e tirar a minha segurança? Não! Não! Não!

   Eu demorei muito pra entender sobre limites, muito. Aprendi sobre espaços e direitos um pouco tarde, com dor, carregando cicatrizes desses aprendizados. Eu sempre achei que era possível dividir minha casa. Por que não? Eu sempre achei que podemos ser melhores quando damos um espacinho pro outro se sentir acolhido dentro daquilo que construímos de seguro pra nós. Mas os marimbondos não respeitam essa relação de troca. Eles fazem suas casas, trazem suas famílias, seus medos, inseguranças pra dentro desse lugar e nos ameaçam naquilo que era nosso! Eu aprendi na marra que isso não é justo. Comigo!

   Me cobri de coragem, peguei uma vassoura, prendi meu cachorro. Essa luta era minha. Derrubei a casa, o marimbondo e fechei  a janela. Rápido. Num golpe. Em segundos. Ele voltou e ficou batendo na janela. Batendo, batendo... e eu fechei a porta. Não quis ver. Não quis entender se aquilo era uma despedida ou um pedido de desculpas, ou ódio pela minha decisão de não querer mais. Eu fechei a porta e pronto. Todos os dias o marimbondo vem na janela da minha sala. Eu sei que é ele, mas a janela está fechada. Ele não entra mais. Não tem mais perigo. E que esse e qualquer outro marimbondo jamais esqueça do que está estampado, bem grande, na minha porta: sinta-se em casa, mas lembre-se que não está! 


Nana.