segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Re-beginning

Ela abriu os olhos e deu um soco meio torto no despertador que insistia em gritar ao seu lado. Se recusou a acreditar que já era hora de levantar e fechou os olhos por mais alguns segundos. Era inútil, não tinha mais tempo.

Sentar-se na cama parecia um exercício impossível, mas conseguiu. Esfregou os olhos inchados com força e permaneceu sentada por mais algum tempo, olhando pra lugar nenhum.

Levantou, deu duas voltas em torno de si mesma procurando seus chinelos.
Achou um só, calçou e caminhou até o banheiro.

Evitou olhar-se no espelho, mas precisava fazê-lo. Não gostara do que via. Nem um pouco. "É o que temos", pensou alto.

Andou desnorteada até a cozinha, abriu a geladeira e pegou uma caixa de leite gelado. Derramou no copo e bebeu assim mesmo, rápido, pra não sentir o gosto.

Na pia, muitas fotos rasgadas do dia anterior. Quis chorar, mas estava atrasada.

Cambaleou mais um pouco de volta ao quarto, abriu seu armário e tudo que queria era entrar nele e sair em Nárnia! Cavou até achar o fundo, mas não havia porta alguma. "Merda!"

Escolheu um vestido preto e seu escarpim preto de verniz; o modelito perfeito para aquele dia fúnebre.
Lembrou quando usou ele pela ultima vez durante um jantar que não terminara bem. Pensou em desistir de usá-lo, mas seria bom lembrar de tudo aquilo durante o dia.

Lembrar pra esquecer!

Foi despindo-se até chegar ao banheiro e entrou no box gelado. Abriu o chuveiro bem pouco e sentiu aquela água fervendo sobre seu corpo. Doía, queimava, mas era gostoso. Deixou a água cair sobre seus cabelos e ficou ali parada por um bom tempo, desejando que a água levasse ralo abaixo seus pensamentos, dores, as palavras de adeus que ouvira na noite anterior, o desgosto da dedicação, tudo, ralo abaixo! Lembrou que estava atrasada e tratou logo de terminar o que havia começado. "Tudo tem um fim, você sempre soube disso!" Aquelas palavras não saiam da sua cabeça...

Vestiu sua roupa fúnebre, maquiou-se lentamente com as mãos ainda trêmulas pelo efeito do calmante e calçou os sapatos.

Olhou-se no espelho. Quis desistir.

Sentou na cama novamente e olhava para lugar nenhum tentando encontrar respostas, mas ela sabia que não tinham respostas. Era aquilo e aquilo não iria mudar. Lembrou de quando era criança e do quanto dizia que príncipes não vem em cavalos brancos. "Mas num preto, cairia bem".

Derramou uma lagrima pelo príncipe que não existia. E mais uma pelo que ela acreditava o ser.

Não tinha mais tempo e nem paciência praquilo. Levantou e foi embora fechando a porta e deixando lá dentro tudo que queria esquecer, apagar.

Colocou seus óculos escuros e saiu para mais um dia de trabalho.

Nana