sábado, 9 de junho de 2018

Poucas Fridas e bem menos Diegos


     Eu sempre tive uma admiração muito grande pela figura da Frida Kahlo e nunca soube exatamente porquê. Talvez tenha sido algum tipo de identificação subconsciente, acredito muito nisso.
Eu já tinha lido alguns de seus versos, já tinha admirado algumas de suas pinturas, conhecia um pouco de sua história e hoje percebi que muito pouco, senhores.

     Hoje vi o filme da vida de Frida Kahlo que está disponível no Netflix e, meus caros, eu não consegui nem sorrir e nem chorar durante todo o filme. Era como se eu estivesse ali, de alguma forma que não sei explicar. Era como se eu conseguisse sentir a dor daquela mulher desde o maldito acidente no ônibus. Eu já passei por muita coisa na minha vida, muita MESMO, acho que muitos de vocês não conseguem nem imaginar. E que assim permaneça. Mas eu não sei se suportaria 30% da dor que essa mulher suportou. Dor física, dor de alma, dor de uma história que poderia ter sido totalmente diferente se ela não tivesse pego aquele ônibus; mas ela pegou. E tudo o mais veio e ela resistiu. Só por isso eu já teria muitos motivos para admirá-la. Mas ela conheceu Diego e, bem, eu gostaria muito de falar sobre Diego nesse texto.

     Eu conhecia fragmentos de Diego Rivera, até hoje. Eu odiava Diego, até hoje.

     Não é que passei a amá-lo com esse filme, não, longe disso. Diego está longe de despertar algum tipo de admiração da minha parte, pelo menos. Mas é que eu sempre soube de Diego pelos outros, hoje eu conheci Diego pelos olhos dela. E muita coisa mudou.

     Diego nunca mentiu, Diego nunca prometeu algo que não poderia dar. Aliás, minto. Diego não cumpriu sua promessa de ser leal quando se relacionou com a irmã dela. Mas Diego também sempre deixou claro que não seria fiel. Ele queria ela por perto, ele precisava dela, do amor dela, dos conselhos dela, da presença dela, mas sempre deixou nítido o quanto precisava do sexo de outras mulheres.

     Talvez o erro da Frida, como o meu, como o de tantas outras que conheço, tenha sido achar que com ela seria diferente. Meu Deus, até quando nós vamos achar que somos mais especiais que as outras? Essa é uma ideia tão estúpida e idiota e que acontece com tantas e tantas de nós que já era pra termos aprendido alguma coisa com toda a desgraça que isso causa! Já passou do tempo de entendermos que a que passou antes de nós não é uma inimiga, não é a razão de todos os males, e a que vem depois de nós não é uma ameaça, não é o símbolo de derrota e pequenez nossa. São apenas outras que foram, outras que virão. Frida entendeu isso depois que casou com Diego. Eu estou entendendo isso agora.

     Kahlo sentiu dor de amor, surtou, permitiu-se surtar. Foi embora, voltou. Declarou seu amor, se arrependeu, mas declarou de novo. Deu espaço, se aproximou. Disse a verdade, o tempo todo. Pra ela, pro mundo e pra Diego.

     E Diego, senhores, de um jeito só dele, amava aquela mulher. Ele nunca a limitou, ele nunca a diminuiu. Diego Rivera foi um dos maiores artistas de sua época, mas sempre disse "ela pinta muito melhor do que eu". Diego deixava Frida ser quem ela era. E isso implica em tanta, mas tanta coisa!

     Eu estou aqui pensando que Diego, talvez, nem tivesse muita noção do que fazia por ela. Eu acho que ele fazia por amor (que, sinceramente, acredito que ele só percebeu na velhice) mas estava ali. E sabe qual a diferença de Diego pra tantos homens que conheço? Diego sempre estava ali.

     Frida morreu precocemente, mas Diego estava lá até o fim. Ela já não podia mais andar, ela já não podia mais produzir como antes, ela já não tinha mais as mesmas cores, mas Diego esteve ali até o fim. Talvez fosse dessa lealdade a que ele se referira. Talvez fosse esse o amor que ela precisasse e que foi tão incompreendido, inclusive por mim.

     Eu já passei da fase de acreditar em amores perfeitos. Já me dei conta de que histórias de amor vão muito além do "felizes para sempre" e ver hoje, constatar uma história como a de Frida e Diego, desconstruiu muitas coisas dentro de mim, mais algumas delas. E eu me dei conta de que temos poucos Diegos nesse mundo, mas também não temos muitas Fridas. O título inicial desse texto dizia que somos todas Fridas, mas não somos não. Poucas mulheres seriam tão grandes, pensariam tão grande e seriam tão profundas. Pouquíssimas.

     Eu não sei se alguém vai ler esse texto, mas eu precisava digerir tudo que acabei de ver e registrar pra não esquecer. Já vi muitos filmes com histórias de mulheres reais que sofreram pra cacete e algumas até morreram por conta desse amor. Elis, Amy e algumas outras que não to lembrando agora. Mas a diferença, meus caros, é que eles não estavam lá até o fim. Eles não ficaram, mas Diego estava. Diego estava lá! E isso faz toda a diferença. Fez pra Frida, e pra mim.

Nana












2 comentários:

Mãe Natureza disse...

Arrepiada! Texto impecável, até mesmo como vc usa a expressão "cacete"! Por mais Diegos, Por mais Fridas e por muito mais Amor!

Um chuchuzinho... disse...

Te amo Agrelli ♥️