domingo, 18 de outubro de 2015

A saia - série biografia

Eu deveria ter vergonha de contar algumas coisas nesse blog. Aliás, melhor dizendo, eu deveria ter vergonha de contar algumas coisas na vida! O correto seria passar por essas situações e guardar pra mim, no âmago do meu ser. Até ficar velha e esquecer. Mas, sério, que graça teria? E se minha vida tem alguma coisa essa coisa é graça. Apesar de parecer muito cagada de urubu (às vezes acredito mesmo que isso possa ter acontecido, mas não lembro de ter visto o bicho sobre minha cabeça) eu sou muito agraciada. Em vários sentidos. 

Mas não vim hoje pra falar sobre a graça que me rege. Não. Vim pra contar mais um causo tosco dessa minha vida de meu Deus. 

Eu sempre tive muitos problemas ao usar saias. Sempre! Nunca tive modos suficientes pra saia, vestido. Minha mãe vivia gritando pelo mundo "Olha os modos, você está de saia! Senta direito, garota!". Não que eu sentasse totalmente à mostra, mas minha noção de modos e decência sempre foi um pouco, digamos, distorcida. E as saias e vestidos só dificultavam tudo. 
Passei por algumas boas por causa disso, mas a que vou contar hoje, sem dúvida, foi a mais marcante. 

Eu trabalhava numa empresa (nada de nomes) e as salas eram compostas por divisórias e janelões de vidro, o que permitia que um visse a sala do outro. Eram três salas assim, mas duas ficavam de frente uma para a outra. Eu ficava em uma delas com a minha chefe. Na outra ficava o responsável pela TI e a moça do Comercial.

 Um dia decidi ir de saia para o trabalho, como em outras muitas ocasiões. A saia não era longa e nem curta; beirava a altura do joelho e era muito rodada, tinha muito pano. Verde, com uns detalhes que não sei explicar o que eram. Não era bonita, o que me dá ainda mais raiva. Eu não tinha motivo para usar aquilo, mas usei. Naquele dia. 

Depois do almoço, no horário da tarde, eu fui ao banheiro pra escovar os dentes e fazer xixi. Nada demais. Fiz o que tinha que fazer e voltei pra minha sala. Parei em frente à mesa da minha chefe pra conversar sobre algo que não lembro, quando ela apontou pra sala do lado e mandou eu olhar. O cara da Ti estava deitado em cima da mesa rolando de rir, literalmente. Roxo, passando mal, chacoalhando as pernas e rindo muito alto. A minha chefe deu um grito quando virei: ABAIXA ESSA SAIA, GAROTA! 
Tava tudo embolado. A saia grudou na calcinha de uma maneira Murphyana só pra me fazer passar aquela vergonha. Eu não senti um vento acusador sobre os fundos que me fizesse perceber que eu estava com a bunda toda de fora. Toda não, exagero. Metade dela. Que fosse 1/4! Era minha saia embolada na calcinha, o que já deixa tudo muito triste. 

Os dois rindo absurdamente e eu querendo sair dali, mas fingi que tava engraçado também. Não tinha outra opção. Ficamos os três rindo, mas meu riso era diferente com toda certeza. Depois, sem graça, o cara veio dizer que não viu nada. Que só viu que estava embolado, mas eu sei que ele viu. Nós dois sempre soubemos. Mentir  piorou as coisas porque justificou o injustificável. 

É, Meus queridos. Não foi fácil. 

Ainda uso saia e vestido, se interessa saber. Mas depois desse dia, apenas com short por baixo. Nunca mais me dei ao luxo de me permitir passar por essa situação de novo. Não posso e não quero. Tô contando aqui porque no dia que eu morrer, quero que lembrem de mim e deem boas e longas gargalhadas. Mesmo que seja da meia banda da minha bunda de fora. 

Nana. 

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