segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Cuide da sua varanda!

Durante um ano eu morei no primeiro andar de um prédio com três. Na parte de trás do apartamento, tinha uma área pequena onde ficava minha máquina de lavar, um tanque e o botijão de gás. Um Pequeno, mas ajeitado.
Acima de mim, os outros dois apartamentos que tinham mais quartos e eram maiores. Ou seja, os dois apartamentos, de um quarto, do primeiro andar equivalem a um apartamento do segundo e terceiro andar, com dois quartos.
O dono dos apartamentos e construtor do prédio, um senhor muito caprichoso , pensou em detalhes o projeto pra que todos os apartamentos , mesmo os menores, tivessem espaço pra tudo.

No apartamento do segundo andar morava uma família: pai, mãe e dois filhos; uma menina que devia ter seus nove anos, e um menino adolescente que, acredito eu, beirava os dezessete. No terceiro andar morava um casal de senhores. Eu quase não os via e a última notícia que tive deles não foi muito agradável, por isso, nesse texto, resolvi focar no povo do 201.
Eles eram muito barulhentos, muito!! A menina corria pela casa e eu podia, perfeitamente, ouvir em que cômodo ela estava só com as passadas fortes sobre a minha cabeça. Fora isso, todo dia  quebravam-se coisas. Eu imagino que aquela mulher devia ter uma cristaleira imensa ou algo do tipo, tamanha a quantidade de vidro que quebrava. O menino parecia um santo; quando os pais estavam em casa. Mas quando saíam... eu já pensei em chamar a polícia algumas vezes por causa dele. Mas pra evitar a fadiga e confusão, deixava pra lá até que eles voltassem e tudo retornasse ao seu estado "normal". Mas, senhores, acreditem, nada disso me incomodava muito. Não tanto quanto um fato muito importante. TUDO caía da casa deles na minha varanda, área, seja lá como quiser chamar. Eu vou chamar de varanda, mas você já entendeu. Enfim, eu encontrava cabelo, pente, papel de bala, copo de plástico: tudo!
Um dia eu estava vendo televisão e um barulho muito forte e alto veio de lá dá parte de trás. Eu corri,com medo, mas fui ver o que estava acontecendo. Uma garrafa de baygon, atirada lá de cima, caiu em cheio acertando o botijão de gás. Mas foi um barulho, um susto, um ódio!
Eu fiquei quieta por muito tempo . Até frasco de exame de urina (ninguém tira da minha cabeça que era isso) já caiu de lá pra baixo. Depois disso eu comecei a gritar que estava insatisfeita pra ver se eles se mancavam e tomavam mais cuidado, mas não. Continuava a mesma coisa.

Numa noite estava cozinhando e escutei um barulho de água corrente descendo na área. Zero chance de chuva, senhores. Abri a porta da área e encontrei muita água e flores, muitas. Eu nem pensei. Subi as escadas a ponto de explodir. Bati na porta e a menina atendeu com os dois olhos esbugalhados. Perguntei pela mãe dela e ela disse que estava sozinha em casa.

"Tia, desculpa. É que eu estava fazendo trabalho de casa de artes e o baldinho virou lá pra baixo, não vai acontecer mais..."

Morri de pena, fiquei com vontade de chorar. Disse pra ela tomar mais cuidado e desci, limpei e esperei a próxima. Fazer o que.

Depois disso, passaram umas três, quatro  semanas e eu comecei a perceber que o prédio estava um silêncio, uma paz. Minha área (eu falei que chamaria de varanda né? Eu sendo eu) estava sempre limpa. Pensei: educaram-se! E segui a vida.
Um dia falei com a proprietária que estava com vontade de me mudar pra um apartamento maior e ela sugeriu que eu escolhesse um dos apartamentos de cima, já que estavam todos vazios. Sim, senhores; eu estava morando sozinha no prédio e não percebi.
Com medo de continuar sofrendo com bateções na cabeça, eu escolhi o 301.
Uma semana depois da minha mudança uma outra família começou a morar no  201.

Na primeira semana morando no 301 eu deixei cair lá embaixo: um chinelo, duas garrafas de Pinho, um balde, um vaso de plantas...

No ano novo eu deixei cair um vaso lá embaixo e, como Murphy é muito meu amigo, o vaso bateu na torneira que liga o tanque e começou a descer muita água. Fui na casa da dona do apartamento pra ela abrir a porta e fechar a torneira, mas já tava lá Murphy de novo e ela tinha viajado. Pensei, pensei. Fiz uma corda com meus cintos, pensei em descer escalando, mas a chance de morte era muito grande. Calculando bem, do 201 dava pra pular, mas quem disse que eles estavam em casa? Esperei, meus amigos. Até que às dez eles chegaram.
Bati lá com muita vergonha, expliquei. Ele pulou, fechou e eu fui pra casa.
Pedi perdão a Deus e mentalmente pedi que os antigos vizinhos do 201 também me perdoassem. Eu estava sendo uma vizinha muito pior que eles. Muito pior!
A gente nunca sabe quando vai estar no lugar do outro. Eu nunca pensei que um dia estaria no lugar da família do 201. Mas estou e não tô fazendo diferente. Hoje entendo porque caíam coisas. Eu tento evitar, mas nem sempre dá. E com isso fica a lição, meus caros. Cuidem de suas varandas. E sejam pacientes com as varandas dos outros. Nem sempre o outro quer derrubar coisas na sua cabeça. É difícil ter esse entendimento e paciência, mas hoje é tudo que eu peço que a vizinhança de baixo tenha.

Outro dia deixei cair três panos de chão, mas a moça do 201 pegou pra ela. Nem fiz questão..  deixei de brinde.

Nana.

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