terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Em casinha 💗

    Hoje é dia 08 de dezembro de 2020. Um marco na minha vida.

    Lembro direitinho, há cinco anos atrás, eu deitada num edredom dobrado ao meio, no chão da sala escura (porque ainda não tinha ligado a energia do apartamento), num travesseiro velho emprestado, tal qual o edredom.

    Chovia. Muito.

    Lembro de olhar pela janela praquela tempestade de raios e trovões e, mesmo com muito medo - sim, tenho medo de tempestade - agradecer. As lágrimas escorrendo pelo rosto de tanta gratidão e paz. Deitada no chão da sala ainda vazia.

    Faz cinco anos que decidi morar sozinha e vocês talvez não tenham noção da real mudança que isso trouxe pra minha vida. Foi desse dia em diante que decidi pagar pela minha liberdade, pela minha paz. E, meus caros, nada é tão caro quanto a sua paz. Quanto você poder respirar aliviada, ter seu canto, seu lugar, seu refúgio. Pra muita gente isso não vai fazer o menor sentido, mas pra muita gente isso vai significar tudo. Muitos leitores, que aqui vem, vão entender exatamente do que estou falando.

    Eu lembro, com muito orgulho, de cada conquista. Do sentimento que me acometeu no momento em que peguei as chaves da quitinete que seria minha por dois maravilhosos anos. Eu não tinha praticamente nada. Uma cama, um armário velho que fora remontado pela terceira vez (e ainda inteiro porque nunca foi sorte, sempre foi Deus), um rack e um micro-ondas. Essas eram as minhas posses. 

    Minha primeira aquisição foi uma geladeira usada desde o descobrimento da energia elétrica. A bicha era torta, envergada pra direita, amarelada e gelava mais que o suficiente. Coloquei uns adesivos nela pra melhorar o aspecto e foi ela que me serviu durante esses dois primeiros anos. Pra mim ela era maravilhosa! O fogão eu ganhei de uma amiga muito querida e com ele estou até hoje. Mas esqueci que pra usar o fogo tinha que ter gás e, por conta desse ato falho, só fui estrear o fogão um mês depois. Não tinha grana pro gás até então. E estava tudo bem! Vamos de comida de micro ou açaí!

    Nas janelas, sem cortina, coloquei papel de presente do Papai Noel, pra ninguém ficar bisbilhotando pela janela. Usei desse improviso até uma outra amiga me presentear com uma cortina (que uso até hoje em um dos quartos do meu, então, apartamento).

    A TV também era emprestada e o volume não funcionava muito bem. Começava bem baixinho e ia "esquentando" até estabilizar o volume normal. Durou três anos até explodir. Sim, ela explodiu na Copa e ai comprei uma nova. Smart. Olha que chiqueza!

    O sofá veio bem depois da mudança. Até então quem vinha me visitar sentava na cadeira de praia e no edredom. Aquele do começo do texto, lembra? Era ele meu sofá. Depois comprei um bem legal pago em 10x sem juros que já tá na hora de ser trocado, inclusive.

    Lembro dos primeiros perrengues que passei com insetos, da barata que "bati" na máquina de lavar, da vizinha que derrubava tudo na minha área de serviço (tem um texto aqui no blog falando sobre isso), de uma vez que quis usar azeitona e não conseguia abrir o vidro de jeito nenhum. Fiquei com tanta raiva que quase joguei no chão e catei as azeitonas. Não fiz por um triz... juro.

    A decoração do apê eram três quadros velhos que peguei de alguém que não quis mais. Só. Não era minha prioridade na época e eu sabia que seria momentânea aquela primeira fase. Que com o tempo eu iria conseguir fazer as coisas do meu jeitinho. 

    Tempo... a gente precisa saber esperar e saber entender que ele passa. Sempre passa. 

    Hoje, cinco anos depois, não tenho mais quase nada daquela primeira fase, daquela primeira quitinete. Poucas coisas sobraram; a maioria eu troquei, comprei novo. Respeitei meu tempo, respeitei minhas limitações. Respeitei minhas condições sempre acreditando que as coisas iriam melhorar. E melhoraram! Minha casa é linda! Toda decorada do meu jeitinho com muito investimento do meu dinheiro de férias e 13º na Praça 2 e no Ponto Frio. Eu entro, hoje, na minha casa e me reconheço, me encontro, me refugio. Renovo minhas forças e energias.

    Ainda tem um monte de coisa que quero fazer, claro! Mas se parasse por hoje já estaria satisfeita. Na verdade, se parasse naquele dia, deitada no edredom no chão da sala também. Vocês podem achar que estou exagerando, mas não estou. Como eu disse, só eu sei o que esse teto sobre a minha cabeça significa pra mim.

    Tô fazendo esse texto hoje pra comemorar esses cinco anos de luta, de paciência e de coragem. Estou escrevendo, também, pra me lembrar que nada é impossível. Que eu quero e posso ser e fazer o que eu quiser com paciência e foco. Ah, e também resolvi escrever tudo isso por você. Sim, você, caro leitor, que precisa entender que dar o primeiro passo é preciso. Ninguém aprende a correr sem antes andar. E se você, como eu, não nasceu num berço de ouro e precisa correr atrás dos seus rolês sozinha(o), você precisa entender que os passos vem um de cada vez... um depois do outro, mas é preciso sair da inércia! 

    Talvez pra você os primeiros passos sejam bem tranquilos e suaves. Numa casa própria, ou num lugar com mais conforto. Mas talvez seu começo seja exatamente como o meu; com uma geladeira torta pra direita, com edredom como sofá e com a ajuda de muita gente que Deus levanta pra abençoar a gente. E tá tudo bem! Acredite, fica sempre tudo bem! 

    Cinco anos depois estou aqui pra garantir que fica e pra agradecer a Deus que tem me sustentado a cada minuto nessa coisa linda e louca chamada vida.

Nana.









quinta-feira, 16 de julho de 2020

Sol em Sagitário, Ascendente em Aquário – O Astronauta

     "De acordo com seu horário de nascimento, Joanna, seu signo ascendente é Aquário, que se combina ao Sol em Sagitário, se traduzindo numa personalidade extremamente humanitária, que tem grande fé no lado bom das pessoas e se conecta à busca de um sentido para a vida. Ainda que eventualmente você peque por ingenuidade e por uma crença exagerada em coisas fantasiosas, é justamente esta sua fé em coisas que os outros acham "absurdas" que lhe torna uma pessoa tão exótica e fascinante. Você não vende seus sonhos e ideais por nada, e os outros admiram esta certeza absoluta que move seu espírito.

     Aquário no ascendente dá uma qualidade amigável, que respeita a individualidade alheia, mas plenamente consciente da própria individualidade. Sagitário ascendente tem muita fé em si mesmo ou numa força maior. Esta combinação se traduz num notável poder de comunicação, Joanna, que você usa conscientemente para transmitir uma mensagem. Há algo de "missionário" na combinação de Aquário com Sagitário. É muito provável que você venha a escrever muito, ou palestrar. O gosto por literatura é notável também. Muitas viagens (físicas e mentais) são outra marca registrada.

     A dura realidade da vida lhe choca. Precisa aprender a lidar melhor com ela, a compreender que existe sombra onde existe luz. Não adianta dar as costas ao lado mais "escuro" da vida. É possível que a vida lhe apresente a muita gente sofredora, a fim de que você transmita um pouco de luz a elas, e aprenda a perceber que a vida não é só festa.
   
   Você tem um lado altamente filosófico, quase religioso, que pode e deve cultivar. O desafio aqui é aprender a aplicá-lo na realidade prática, que você acha cansativa e grosseira. Por você, a vida seria vivida com o máximo de relaxamento, e não deixa de ser interessante perceber o quanto você tem um lado "sortudo" - que chega a irritar gente que acredita que você não sofre, o que não é verdade. Você sofre, mas tem uma fé tão grande que tudo faz sentido, que consegue extrair a lição do sofrimento, enquanto os outros ficam simplesmente se queixando. Você não tem mais "sorte" do que os outros: você cria um campo de oportunidades com seu próprio pensamento - e é isso que sua alma veio ensinar os outros a fazer!"

Nana.
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sábado, 23 de maio de 2020

Pandemia

   Ontem encontrei uma das minhas melhores amigas, senão a melhor. Nós nos vimos porque eu precisava entregar uma coisa pra ela. Não pudemos nos abraçar, o que foi péssimo, porque habitualmente vivemos agarradas, grudadas. Ela levou dois pares de luvas, um pra mim e um pra ela. Colocamos as luvas e apertamos as mãos uma da outra, esmagamos as mãos sabendo que aquele seria o máximo de contato que poderíamos ter. Ela com os olhos marejados e eu também, ali de mãos dadas com luvas no ponto de ônibus. Sentamos, com um banco de diferença entre nós, de máscara e luvas e ficamos conversando. Tentando contar sobre coisas que não estariam acumuladas se não estivéssemos por tanto tempo uma longe da outra. Foi horrível!

   Tenho assistido muitos videos engraçados no Instagram e no Tiktok e meu riso tá diferente. Uma gargalhada histérica, acima do tom, exagerada. Nem sei se, em outras condições, acharia tanta graça de tantas coisas. Tô me alimentando de comédia pra não morrer de tédio e pavor, mas admito que hoje fiquei pensando se estou rindo mesmo, achando graça, ou fingindo pra eu mesma que tá tudo bem, tá tudo de boa, o mundo continua girando.

   A música tem me salvado também. Tenho curtido bastante coisa diferente das que eu estava acostumada. Rap agora tá bombando na minha playlist. MPB então, nem se fala!! Música de qualidade de uma galera que eu não conhecia ou conhecia muito pouco. Desligo a TV e fico ali, viajando no som que me traz a sensação de alma em paz. O poder da música, o poder da arte. 

   Já não sei quantos dias faz que estamos em isolamento social, em casa, fugindo de uma doença que tá matando mil por dia no Brasil, Enquanto escrevo esse texto a marca de mortos por essa praga está em 21.116. É gente pra caramba morrendo! Gente pra caramba!! Gente que duvidou do poder da doença, gente que não tomou os devidos cuidados, gente que fez tudo direitinho, mas pegou. Gente gente gente gente. Gente! Todos os dias, eu não estou exagerando, todos os dias recebo mensagem de alguém dizendo que alguém conhecido morreu. E enquanto isso eu tô aqui, tentando.

   Uma saudade absurda de praia, dos meus amigos, de bar, de música ao vivo, de escrever bilhetinho pedindo música, de querer tirar o sapato e sambar descalça, de rir, de abraçar, de chorar ouvindo uma história de sucesso ou de fracasso de alguém, de encontrar ex na rua e fingir que não viu, saudade de reclamar do BRT, de fazer xixi em pé no banheiro do bar, saudade de salto alto, meus amigos. Quem diria que a "mina do tênis" sentiria saudade de usar salto? Saudade de esperar a tarifa do uber baixar pra voltar pra casa, de pedir pro motorista aumentar o som pra eu cantar, saudade de forró e comer carne de sol com manteiga de garrafa. Uma tremenda falta de reclamar da música mal tocada de um show ao vivo de uma banda que é muito melhor no playback.

   Eu não queria que esse texto parecesse muito melancólico, juro. Mas não consigo porque tô só melancolia. Desculpem, leitores, é só o que tenho pra oferecer no momento. Algo diferente disso não seria real, não seria eu. E uma coisa que não sei fazer é fingir, graças a Deus.

   Não faço ideia de quando tudo isso vai terminar. Não tem um prazo pra que a gente possa voltar a viver normalmente, fazendo tudo que sempre fizemos, sem máscara, sem evitar encostar nas pessoas, sem ter que lavar saco de batata palha. Não tem nada legal nisso tudo que está acontecendo, NADA! É uma grande merda você não poder fazer as coisas, ter que lavar compras, andar de máscara e tomar banho de álcool gel. Mas não tem outro jeito e meu pai sempre me disse "o que não tem jeito, ajeitado está". E é isso, vamos nos ajeitando.

   Cuidem-se! Não se culpem pela preguiça, não se exijam, não se forcem, a nada! Façam tiktok, é muito legal e tem uns vídeos bem engraçados. Lavem as compras, usem o álcool gel, não entrem de sapato em casa, lavem suas máscaras, evitem assuntos estressantes, pessoas irritantes, ideias discrepantes. Ascendam um incenso; os de alecrim são uma delícia. Assistam a série "Todas as mulheres do mundo" no Globo Play. Dá um quentinho no coração que vocês também precisam sentir. Bebam água e tomem sol, se possível. Falta de vitamina D também mata. Façam vídeos pra aliviar as saudades, assistam lives (até enjoarem, porque eu já enjoei), durmam. Cuidem dos seus velhinhos, de perto ou à distância. Sobrevivam! Respirem! A gente precisa respirar, com tudo que isso significa.

   Vai passar.


Nana.

domingo, 8 de março de 2020

Pra elas, e pra eles que querem melhorar pra elas.

   Eu gostaria de escrever sobre três histórias que presenciei nessa semana. Acho oportuno relatar esses três eventos no dia de hoje. Tomara que compartilhem da mesma opinião que eu.

Na van:

    Eu estava na van, voltando pra casa e, milagrosamente, não estava de fone de ouvido. Ao meu lado uma moça grávida, no último banco do carro. Na frente tinha um homem sentado e um outro homem ao lado dele. Esse segundo homem levantou e, uns dez segundos depois, o outro homem olhou pra trás, pra mulher grávida ao meu lado, e num tom bem agressivo disse "Você se separou?". A mulher pareceu tão ou mais surpresa do que eu com a pergunta e a princípio não respondeu. Depois, com a pergunta repetida "Você se separou?" ela respondeu a mesma coisa que eu responderia "Quê?". Ele não satisfeito, e cada vez mais agressivo fez a mesma pergunta mais duas ou três vezes e foi quando eu entendi, de fato, o que estava acontecendo.

   Ela era esposa dele e, depois que o rapaz que estava do lado dele se levantou, na cabeça dele era automático que ela fosse sentar-se ao lado dele. Só que ela não foi. E aquela série de perguntas iguais foi, de alguma forma, pra que ela entendesse que não estava separada para sentar do lado do marido. Sim, foi exatamente isso.

   Depois de tudo isso - que durou uns minutos que foram me corroendo por dentro - ela levantou-se e sentou onde ele queria. Eu não tive como não prestar atenção naquele diálogo:

- Pensei que eu fosse ter que gritar mais pra você entender.
- Olha, eu to tão, tão cansada...
- Cansada? Tá cansada?
....
- Depois, em casa a gente vai conversar sobre seu cansaço.


No ônibus:

   Dois rapazes adolescentes conversando:

- Po, tô dividido, né? Duas gostosas! Tudo bem que uma é mais do que a outra, mas uma me diverte, me faz rir, a outra é só pra me satisfazer mesmo. Não sei, não sei.

- Na dúvida fica com as duas, ué? Por que ficar só com uma se pode ter as duas que se completam?

Os dois caem na risada.

- Pode crer. As duas me querem, eu quero as duas. Tá tudo certo.

- Elas só não podem descobrir, senão já era.

- Se descobrirem elas que se matem por mim. Tõ nem aí...


No shopping:

   Eu estava almoçando na bancada da praça de alimentação e, ao meu lado, tinha um casal e um menino com, sei lá, uns 9 anos. O garoto estava se recusando a comer e o pai falava algumas coisas em tom de ameaça pra ver se convencia o menino a terminar o prato. A mãe, percebendo que eu olhei, ficou com vergonha e tentou convencer o menino com um tom mais ameno. Na mesma hora, sem ter visto que eu tinha olhado, o pai esbravejou contra a mãe do menino:

- É por isso que ele é assim. É o tempo todo você passando a mão na cabeça desse garoto! Muleque minado! Se você não comer você não levanta daí, você tá escutando?

   O menino baixou a cabeça, olhou pro prato. Olhou pra mãe que, com um olhar de canto de olho pra ele fez um sinal de positivo acenando com a cabeça. Mais uma vez ele olhou pro prato, segurou o garfo e foi comendo aos poucos, até que comeu tudo.

   O pai meio que orgulhoso, não percebendo NADA que aconteceu ao seu redor, mandou um "muito que bem" pro menino. Todos levantaram e seguiram seu caminho.



   Eu não vou comentar  nada sobre essas três situações. Eu não vou escrever ou fomentar nenhuma opinião pessoal sobre nenhum desses casos. Não escrevi esse texto com esse intuito. Eu já tenho as minhas convicções e a ideia é que você leia e reflita, mas reflita pensando bem no dia de hoje e no que você fez durante todo o dia.

Força manas e parabéns pela luta de ser quem somos todos os dias. Não só no dia de hoje. Não só hoje.


Nana





sábado, 4 de janeiro de 2020

Sobre Roberta, juro!

Roberta é uma pessoa legal, no  geral. Tem bons amigos, leais a ela. Roberta também é leal.
Ela gosta de fazer muitas coisas com eles, mas também curte muito estar sozinha. A solidão, de certa forma, de uma forma até meio que melancólica, faz bem à Roberta.

"As pessoas tem muito a oferecer, mas pouco pra dar" é uma das suas frases preferidas. Ela gosta muito de criar frases de efeito e as repete como se fossem de um autor famoso, mas é ela própria quem cria essas frases nos seus momentos de devaneio. O problema é que ela morre de vergonha de dizer que as frases são dela. Na verdade ela morre de vergonha de tudo que cria. O julgamento das pessoas assusta muito Roberta e sentir-se avaliada causa um certo desespero. Menos do que antes, quando ela se limitava a viver por conta disso, mas ainda assusta. Não a limita mais, não a veta, mas a assusta. As pessoas são muito cruéis. Roberta também tem sua dose de crueldade. Todos temos, não é mesmo? Difícil é assumir isso. Mas ela assume. Nunca contou onde, de fato, dissipou seu veneno, mas nunca negou que o tenha feito. Roberta é muito sincera. De uma forma até suicida.

Roberta tem uma mania péssima de fazer coisas das quais não se orgulha. E quando chega em casa, ela e eu sabemos o quanto ela chora e se pune por isso. Nem ela sabe porque as faz, nem ela entende como se mete em algumas das suas confusões. O fato é que ela tem muita dificuldade em dizer não e acaba aceitando muitos absurdos. A negativa é uma opção também, muitas vezes a melhor, mas Roberta às vezes esquece disso. Ela quer aproveitar tudo, ela quer provar tudo, ela quer conhecer tudo e, por muitas vezes, cria teias perigosas que depois a fazem muito mal. Ela precisa parar! Nós duas sabemos disso. Ela até mais do que eu, que estou escrevendo sobre ela agora.

Eu deveria estar escrevendo sobre ela?

Bom, o trabalho é muito importante pra Roberta. Ela, de fato, ama sentir-se produtiva. Mas não queira que ela leve isso tão a sério. Eu não lembro de nada que ela tenha levado muito a sério assim. Preciso pensar mais sobre isso, porque se eu perguntar ela com toda a certeza não vai saber me responder também. Roberta não sabe pensar sobre pressão. Ela simplesmente trava! Fica com um olhar perdido, a boca seca, a cabeça a mil e já começando a pensar em outras coisas pra desfocar. Pressão, sem dúvida, é seu pior inimigo.

Sobre o amor? Ah, cada dia o amor tem uma definição diferente pra ela. O amor já foi palpável, o amor já foi uma energia, o amor já foi o sorriso de uma criança e hoje, pra ela, o amor é um dia de cada vez. O amor é uma construção. Um prédio que você vai levantando tijolo por tijolo com o cimento do respeito e a massa da tolerância. Paciência são os pilares. O amor, pra ela, já não se sustenta mais sozinho. E hoje ela ama tanta coisa, ela ama tantas pessoas, que o conceito de prédio não vem a toa. É pra caber muita gente mesmo, é pra caber todo mundo. Roberta é dessas pessoas que agrega. Ela junta e ama ver tudo junto, todo mundo no mesmo balde.

Talvez, por isso, ela viva sempre tão rodeada de gente. Deve ser por isso que a gente vê ela sorrindo quase que o tempo todo. Quase.

Talvez esse texto sobre ela esteja um tanto quanto óbvio mas, meus leitores, eu posso garantir que não. Porque nada é óbvio quando se trata de Roberta. A gente sempre acha que ela está indo em uma direção e na verdade, quase sempre, ela nos surpreende fazendo o contrário. E por que então, Joanna, escrever sobre ela?

Por que, Joanna?

Por que, Roberta?

A gente, na vida, costuma ter muitos segredos. Coisas que a gente não conta pra ninguém, ninguém MESMO! Roberta sabe que eu tenho esse blog. Ela sabe muitas coisas sobre mim e sabe que eu hoje precisava de um tempo só meu, de uma rede, de um colo, de um motivo pra ter certeza de que vai ficar tudo bem, de uma caneca de chocolate quente com biscoito e geleia de morango. Eu adoro morango.

Mas esse texto não é sobre mim, não é pra falar de mim. Esse texto nem é tão meu. É sobre Roberta, é pra Roberta, eu juro.

Nana.



domingo, 10 de novembro de 2019

Série Uber - Seu Wagner, o sonhador

   Eu estava indo pra uma festa na Feira de São Cristóvão que, vale dizer, fica há léguas da minha casa. Um calor, uma preguiça, um espírito de riqueza que me bate sempre nesses momentos me cegando completamente e me convencendo de "dane-se, pede um Uber". Pedi.

   Saí de casa já pingando de suor, com um baita mau humor, querendo voltar. Um Uber cancelou e eu já pensei "é um sinal", mas o segundo aceitou e estava já na minha rua, quase na minha porta. O carro bem humilde, um motorista com seus, talvez, 60 e pouquinhos anos que perguntou se eu queria que ligasse o ar, com a cidade aos seus 50°.

- Por favor, seu Wagner, to suando feito um porco!

- Porco não sua, minha filha.. eu sei porque já tive porco.

   E pronto, começamos aqui nosso texto.

   Seu Wagner era meu vizinho. Estava saindo de casa pra trabalhar de Uber naquele momento quando minha corrida apitou. Já havia sido casado e "não deu certo, minha filha". Morava com a esposa em Nova Iguaçu, separou e foi morar com a mãe na Taquara. Depois conheceu uma outra moça que sentenciou "com a sua mãe eu não moro. Quero morar na Zona Sul; é meu sonho"

- Exigente ela, né Seu Wagner?!

- Muito, minha filha. Você nem imagina. Mas, já que ela queria ser chique, fomos morar na Rocinha. Aquilo lá é uma cidade dentro de outra cidade!

- Sim, a Rocinha é muito grande!

- E caro de se viver. Eu morava numa quitinete só pra ela poder dizer que morava num lugar nobre. Pra ela a Rocinha era chique, ela não passava a vergonha de dizer que morava na Baixada pros parentes, mas eu vivia apertado. Montei um bar que não deu certo, uma confusão!

- E hoje você não mora mais lá. Ela mora na Taquara com você?

- Claro que não! Como eu não podia mais arcar com as despesas e nem ela sozinha, voltou a morar com a mãe na Baixada. Preferiu voltar pra casa da mãe do que tentar a vida comigo em outro lugar. Era a Zona Sul ou nada.

Ficou aquele silêncio que  fala muito, sabe? Aquele silêncio que grita. Que chega a arder os olhos...

- Então eu voltei a morar com a minha mãe, mas ela foi envelhecendo e meu pai partiu. O sonho dela era morar na Região dos Lagos, e assim ela o fez. Aí eu me desdobro entre lá e cá pra cuidar da casa dela aqui e dela lá. Tenho que ficar de olho se ela está indo no médico direitinho, ligo pras vizinhas pra vigiarem ela pra mim. Quando ela tem médico vou lá pra levar...

- Nossa, difícil né? Porque é longe

- Muito! Mas Deus ajuda...é o que ela sempre quis.

- Seu Wagner, e qual é o SEU sonho? - Perguntei pro homem que, até então, só tinha se preocupado em realizar o sonho de outras pessoas.

- MEU SONHO? - um grito seguido de, mais uma vez, aquele silêncio que geme - Meu sonho era ser piloto de helicóptero!

- Pois saiba que eu trabalho com aviação, numa empresa de offshore! O Sr. pode ser piloto, é só querer!

- Eu já tenho o PP (a licença para exercer a atividade de Piloto Privado), mas acabei desfocando do meu objetivo por causa de outras coisas, sabe? Hoje tô velho, não tenho mais tempo. Até tenho amigos pra me ajudar com as horas de voo, mas já to no fim da linha. Meu olho enche d'água só de falar dos helicópteros.

E encheu mesmo. Os olhos dele e os meus.

Cheguei ao meu destino. Já não suava mais, mas a vontade de chorar estava latente. Eu queria poder dizer um monte de coisa, mas tudo que saiu foi:

- Seu Wagner, o Senhor ainda está vivo! E enquanto tem vida, tem esperança. Realiza seu sonho porque o Senhor pode ser o que quiser! Não deixa passar mais tempo! Agora é a sua vez de ser feliz com o que o Sr. quer fazer. Por você e pra você. Corre e vai ser piloto!! Uma boa tarde, uma boa vida pro Sr.

Saí do carro, dei cinco estrelas pra ele, mas o que queria mesmo era lhe dar esperança, era dar pra ele a certeza de que ele ainda podia ser feliz realizando o que ele sempre sonhou pra si.

Hoje, escrevendo essa história estou repetindo as mesmas palavras que falei pra ele, mas pra mim. Pra você, meu leitor, e pra mim.

Nana.

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Série Uber - Seu Gustavo, o Infeliz

To bastante sumida, eu sei. Trabalhando como nunca, estressada como sempre e cada dia mais sem entender o que tá acontecendo com a minha vida. Normal, eu acho.

As pessoas que eu conheço andam bem exaustas ultimamente. De uma maneira geral tá todo mundo sobrecarregado e encostando nos cantos da vida, pedindo a Deus por sombra e água fresca.

A impressão que dá é que a gente tá em pé, num sol escaldante faz meses; sem água.

Mas não vim falar de tristeza e nem ficar me lamentando. Apesar de estar precisando desse momento "botar tudo pra fora", hoje não.

Eu hoje saí do trabalho bem tarde e vim pra casa de uber. Na verdade peguei carona com uma amiga no uber dela e, depois, pedi um pra chamar de meu. E eu não sei quem são vocês no Uber, mas eu sou a pessoa que fala, conversa, debate, discute, canta, assovia. Ri, chora junto. Pede e dá conselhos. Juro que faço tudo isso. E hoje, conversando com o Paulo Roberto, sobre as nossas vastas experiências nesse transporte maravilhoso - ele como motorista e eu como passageira - nos deparamos com a ideia de um livro sobre isso. Por que não?? E, como meu projeto de livro já é outro e anda BEM atrasado, resolvi trazer esse brilhante absurdo aqui, para meu espacinho. Abriremos, a partir de hoje, uma série de histórias divertidas, e outras nem tanto, sobre essas experiências que começamos a adquirir a pouco tempo, mas que já fazem muito parte da nossa rotina, não é mesmo?

Eu não sei se é do interesse de vocês ler sobre isso, mas eu gosto muito das histórias das pessoas. Sou apaixonada por compartilhar experiências. Sendo assim, vamos a Série Uber.

Pra começar, vou trazer de volta uma história que gosto demais  e que não aconteceu num Uber, e sim num táxi há muitos anos atrás. Espero que você, meu amado leitor, também consiga sentir, através das minhas palavras, a mesma coisa que eu senti naquela viagem e depois dela.

Isso aconteceu há dez anos atrás, em 2009....

Ontem foi um dia daqueles! Sabe aqueles dias que parece que tudo está predestinado a dar errado? Então. Ontem.
O tempo foi pouco pra fazer as milhares de coisas que eu tinha pra fazer e nem metade, dessas coisas, foram feitas. Ô dia!

 Estava no Sindicato (a toa, porque a funcionária não foi para a homologação) e pedi um táxi para voltar ao trabalho. Aqui na empresa a gente usa aqueles táxis de companhia que paga-se com voucher, sabe? O táxi demorou tanto...tanto...tanto... As portas do Sindicato foram fechadas, os funcionários foram saindo um a um e eu ali sentada na escada esperando meu táxi.

 Mais raiva, menos paciência. 

Depois de um bom tempo, bota tempo nisso, meu táxi chegou e eu conheci umas das pessoas mais interessantes que eu já tive oportunidade de conhecer na vida. Os poucos minutos que desfrutei de sua companhia, mudaram o meu final de dia.

 O taxista era um homem simples e me tratou cordialmente assim que entrei no táxi. Me pediu desculpas pelo atraso e justificou-se alegando que o trânsito estava engarrafado demais. "Muita chuva, muito carro, muito trânsito", disse ele. 
- Nunca vi Outubro desse jeito! O Sr. pode, por favor, diminuir o ar condicionado pois estou com muito frio- Pedi com a mesma cordialidade com que estava sendo tratada. 
- Frio!? quem sente frio é pobre! Frio e fome. Pobre é que sente essas coisas. - Não aguentei. Danei a rir. 
- Então sou muito pobre, porque estou sentindo muito as duas coisas! 

Começamos a conversa.
Ele elogiou meu nome. Disse que achava um nome muito bonito e que tinha uma amiga linda que se chamava Joana. Eu, com o mesmo discurso de sempre, disse que achava nome de velho! 

- Não, minha filha. Quer ver um nome de mulher feia!? Nunca vi mulher bonita nenhuma com esse nome: Rita! - ele quase soletrava. 

Ao longo do caminho eu soube que Rita foi uma mulher apaixonada por ele. Uma mulher, segundo ele, feia como a fome, feito um "toco de amarrar jegue", baixa, horrível. Rita fez de tudo pra ficar com ele e, numa noite infeliz, bêbado, ele foi fisgado pela Rita. Amanheceu na casa dela, com a mulher horrenda dormindo do seu lado. Como se não bastasse, Rita ficou grávida! 

- E quem disse que o filho era meu mesmo? Não acreditei e nem registrei! 
- Mas a criança não teve culpa! 
- Eu sei. Eduquei ele, ajudei na criação, mas levar meu nome não. Hoje ele é advogado, tem 34 anos.

 Quando soube que Rita estava grávida, ele ficou desesperado, pois amava uma mulher que também estava grávida dele. Sônia. Ele tinha planos de construir uma vida a dois com Sônia. Fez planos de casar e ter um cantinho pros três: ele, Sônia e o bebê. Três dias depois de tudo certo, Sônia sumiu. Foi embora do Rio de Janeiro para a casa dos seus pais no Espírito Santo sem avisar nada à ninguém. 

- E o Sr., o que fez? 
- Eu fui atrás dela! 

Pegou suas poucas economias e foi ao Espírito Santo atrás da mulher amada. Não tinha seu endereço, telefone, absolutamente nada. Seguiu apenas com algumas coisas que ela havia dito para ele sobre a casa de seus pais, enquanto estavam juntos.
- E o Sr. achou ela? 
- Claro que achei! 

Ficou 15 dias na casa dos pais dela. Voltou ao Rio de Janeiro para preparar as coisas para buscar ela de volta. Quanto retornou ao Espírito Santo, alguns meses depois, Sônia havia ido embora de novo...
- De novo? 
- De novo! 
- E o Sr., o que fez? 
- Fui atrás dela de novo! 

Eu quase não acreditei, mas estava gostando muito da história! Encontrou Sônia de novo, mas dessa vez deram um fim na relação. 

- Ela era inconstante demais! 
- E o Sr, se casou? 
- Casei com uma mulher que eu nunca gostei! sempre odiei aquela mulher! 

Casou por pressão da família. Praticamente obrigaram ele a casar. Tentou adiar a cerimonia para tentar que esquecessem, mas ninguém esqueceu e ele se casou com ela. 

- E durou quanto tempo? 
- Dura até hoje! A gente não se suporta, mas não separo só de birra! Não me obrigaram a casar? Agora obrigo a permanecer casada. 

 Fez-se um longo silêncio no táxi e eu já estava quase chegando ao meu destino. Ri tanto durante todo o caminho e agora nada daquilo fazia muito sentido. 

A pergunta estava engasgada na minha garganta e eu a fiz. 

- O Sr. é feliz? 
- Não, minha filha. Sô não! Nunca fui. 
- Mas ela também não é feliz? 
- Não. Nem ela e nem eu. Uma pena, né? 
- Uma pena... 

Triste demais. 
Histórias alegres de um homem triste. História triste de um homem alegre, mas não feliz. 

Seu Gustavo. Taxista. 

Um senhor com, sabe Deus, quantos filhos e uma vida inteira para trás! Quilômetros dela, já percorridos. 

Estávamos em frente ao local onde eu iria descer. Estava atrasada, cansada, mas a raiva não estava mais ali. Não poderia estar! Agradeci a viagem e contei ao Seu Gustavo que pediria a Deus para que ele fosse feliz! 
Ele pegou mais um passageiro, um Senhor de terno e gravata que entrou assim que eu saí. Perguntei-me se aquele, talvez, era feliz... Jamais vou saber.

Eu não sei como concluir esse texto. Pensei tanta coisa sobre Seu Gustavo, Rita, Sônia e a esposa infeliz, e cheguei a tantas ocas conclusões que esse texto não terminaria se eu as escrevesse.

Eu só tenho certeza de uma coisa: A vida da gente passa... rápido como uma viagem de táxi!

 Nana